8 de março: mais afetadas pela pandemia, mulheres são essenciais na luta!

A devastadora pandemia que atingiu o mundo em 2020 teve impacto relevante na vida das trabalhadoras e trabalhadores do país. Mas você já parou para pensar como a pandemia pode ter afetado de forma diferente homens e mulheres?

No dia 8 de março, dia histórico de luta da mulher trabalhadora, é necessário nos voltarmos para elas entendendo as diferenças de classe, raça e gênero que atingem a vida da mulher trabalhadora no Brasil. E, embora o dia 8 de março seja um dia de reflexão, nossa luta não pode acontecer apenas nesse dia.

Desde o início da pandemia temos visto a desigualdade e a violência social do país prevista nos mais diversos dados. Isso não significa de forma alguma que essa desigualdade e violência começaram hoje, muito pelo contrário. O sistema capitalista gere a desigualdade social como forma de manutenção do poder de apenas 1% da população mundial.

No caso das mulheres, principalmente as negras, as dificuldades enfrentadas pela classe, raça e gênero são ainda maiores. Aqui vamos olhar para alguns dados relacionados ao aumento ou manutenção dessa desigualdade em meio à pandemia, mas sem tirar do nosso horizonte que para combater estes problemas não basta o fim da pandemia, mas sim uma sociedade em que todos sejamos socialmente iguais.

O desemprego atinge as mulheres de forma ainda pior durante a pandemia

Em meio à pandemia, as mulheres continuam recebendo 22% a menos que os homens. Os dados são de um estudo realizado em fevereiro de 2021, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E esse não é o único problema, de acordo com o relatório Mulheres na Pandemia, com o aumento do desemprego e com salários menores, 40% das mulheres afirma terem tido o sustendo da casa colocado em risco desde o início da pandemia, dentre elas, 55% são negras.

Com o desemprego crescente, as mulheres também são mais afetadas. A taxa de desemprego entre as mulheres cresceu 16,2% enquanto a dos homens ficou em 11,7%, de acordo com o IBGE. E entre as desempregadas, ainda vale destacar que em sua maioria, 58%, são negras. A diferença classe, raça e gênero é gritante quando se trata do sustento familiar. E embora o número de mulheres desempregadas não pare de crescer, mais de 11 milhões de mulheres no Brasil são responsáveis sozinhas pelo seu sustento e de seus filhos, sendo que a maioria também são as mulheres negras.

Além disso, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o fechamento dos postos de trabalho atingiu em cheio as mulheres. Cerca de 900 mil vagas de emprego deixaram de existir, mas 588 mil eram de mulheres.

Mas sem emprego ou com baixos salários, como tem sido a vida das mulheres em meio a pandemia?

A responsabilidade do cuidado é das mulheres

Diferente do que se possa imaginar, a carga mental que as mulheres trabalhadoras enfrentam não reduziu, mas sim, aumentou muito. Além do sustento da família e das tarefas domésticas, muitas mulheres também se tornaram cuidadoras de suas famílias.

Entre crianças, idosos, e outros dependentes, de acordo com a pesquisa realizada pelo Mulheres na Pandemia, metade das mulheres do Brasil, 50%, precisou cuidar de crianças, idosos, ou pessoas com outro tipo de dependência, e no caso das moradoras da zona rural esse número chega a 62%.

Uma grande porcentagem (72%) das mulheres que precisam despender cuidado para outra pessoa relatou um aumento no tempo despedido na necessidade de companhia diária ou outros tipos de atenção ou encargo de cuidados dessas pessoas. O número de mulheres que realiza esse trabalho sozinha é imenso, são 42%.

Isso significa que grande parte delas precisou reorganizar a sua vida durante a pandemia para fazer com que esse cuidado acontecesse, afinal de contas, antes da pandemia os espaços sociais e coletivos podiam ajudar, como a casa de outros parentes e amigos, o ambiente escolar, e no caso dos idosos, até mesmo ambientes com suas próprias relações de apoio.

Muitas vezes sozinhas, se a necessidade de cuidar de outras pessoas aumentou durante a pandemia, será que o trabalho doméstico também?

Trabalho duplo, triplo, quadruplo, quíntuplo…

Antes da pandemia, as mulheres gastavam cerca de 21 horas semanais no trabalho doméstico de acordo com o IBGE. Em contraposição os homens não chegavam na metade do tempo. Durante a pandemia a pesquisa nomeada Pais em Casa mostrou que 63% das mulheres gastam mais de 3h diárias no cuidado da casa, enquanto apenas 37% dos homens dizem gastar o mesmo.

Ou seja, além das dificuldades relacionadas a empregabilidade e ao sustento, a jornada das mulheres aumentou muito em relação a necessidade de cuidado de membros da família e ao trabalho doméstico. Com uma porcentagem do tempo das famílias sendo passada mais no ambiente da casa, os cuidados com as tarefas de reprodução da vida como a limpeza e alimentação se tornaram ainda maiores.

“O desgaste da demanda do trabalho doméstico também atrapalhou bastante, pois as mulheres tendem a estar na obrigação do cuidado com os filhos e afazeres domésticos de rotina. A necessidade de estar em tempo integral à disposição da chefia para responder em grupos ou individualmente no whatsapp.”

Depoimento de uma servidora da educação

Violência doméstica: silenciosa e crescente

Desde o início da pandemia tem sido registrado um aumento da violência doméstica em relação às mulheres. A sua própria casa é o ambiente em que as mulheres mais sofrem violência doméstica e em 2020 isso não foi diferente. O crescimento dos registros de feminicídio entre março e junho, em relação à 2019, foi de 16%, de acordo com o Instituto Igarapé. Segundo o atlas da violência, em 2019, as mulheres negras foram as mais atingidas, representando 66% das vítimas de feminicídio.

A violência de gênero atinge também as mulheres transexuais e travestis. De acordo com a Associação Nacional de Transexuais e Travestis, em 2020 houve um aumento de 47% no número de assassinatos. A maioria das vítimas eram negras.

E se durante a pandemia a violência doméstica aumentou, a solução não é colocar as vítimas nas ruas, para fora do isolamento social, em risco, para que elas não fiquem em suas casas, mas sim, são necessárias políticas públicas e ações do estado para combater o machismo e o racismo.

 A luta das mulheres é por uma sociedade livre da exploração e da opressão

Quando olhamos para esses dados vemos que ao nascerem, as mulheres precisam encarar uma série de papéis e dificuldades impostas pela sociedade capitalista em suas vidas, o preconceito, o desemprego, a solidão e tantos outros problemas que são definidos por essa sociedade machista.

Por isso, a luta das mulheres trabalhadoras precisa ser pela libertação de toda opressão e exploração. O ódio às mulheres imposto pelo governo Bolsonaro e pelo conservadorismo precisa ser combatido com a luta organizada. É preciso que as mulheres possam olhar umas para as outras e reconhecer em cada uma a mulher trabalhadora que existe.

Além disso, o dia 8 de março é o dia da mulher trabalhadora, um dia que surgiu na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas e que relembra a grande manifestação das operárias têxteis em 1987 que pararam por semanas a linha de produção nos EUA e foram duramente reprimidas por protestar por melhores condições de trabalho.

Esse dia serve para nos lembrar que o pouco que temos hoje só existe graças aquelas que lutaram e é por isso, que além de um dia de comemoração, o dia 8 de março é um dia histórico e de luta!

 

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