Condições análogas à escravidão ainda são realidade

No último domingo, os brasileiros foram surpreendidos com a história de Madalena Gordiano, uma mulher negra de 46 anos que vivia em situação análoga à escravidão imposta por um professor universitário e sua família há 38 anos, em Patos de Minas.

Em novembro, o SIFAR fez uma série de postagens e também alguns textos no Jornal O Popular sobre o racismo estrutural no Brasil e a necessidade de nos colocarmos em luta contra essa situação. E a história de Madalena é uma das expressões do racismo estrutural que muitos ainda se recusam a acreditar que existe em nosso país.

De acordo com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, desde 1995, 55 mil pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão. A maioria desses casos aconteceu em zonas rurais. Em 2019, 14 pessoas foram resgatadas do trabalho escravo doméstico, situações parecidas com a vivida por Madalena e mais difíceis de serem identificadas e denunciadas.

Quando era criança, aos 8 anos, Madalena foi pedir comida de porta em porta até que Maria das Graças Milagres Rigueira, uma mulher branca e de classe média alta, a recebeu e disse que iria adotá-la. A adoção formal nunca virou realidade, mas Madalena foi forçada a abandonar a escola, perder a infância e começar a trabalhar na casa de Maria das Graças, sem salário, sem férias, sem nenhum direito. Sem poder sair de dentro da casa, Madalena estava presa.

Quando Madalena deixou de ser bem vinda na casa de Maria das Graças, ela foi “dada” ao filho da patroa, o professor universitário Dalton Rigueira, e continuou servindo à família Rigueira.

A esposa de Dalton, Valdirene, ainda arrumou um casamento entre um tio bem mais velho que era ex comandante das Forças Armadas com Madalena, mas eles nunca viveram juntos e, depois da morte desse tio, a pensão que era de Madalena por direito foi mensalmente retirada do banco por Dalton. Madalena nunca teve acesso à sua conta bancária.

Em sua defesa, Dalton usa a tradicional frase que é também expressão do racismo estrutural brasileiro: “É como se ela fosse da família”. Mas de qual família? Porque da família de Dalton não parecia, Madalena só recebeu ajuda dos vizinhos quando começou a deixar bilhetes pedindo ajuda pra comprar sabonete e itens para sua higiene pessoal. Madalena estava mais para uma extensão da casa, dos eletrodomésticos e dos utensílios de cozinha da família Rigueira.

As semelhanças com o período escravocrata são indignantes e parecem absurdas, mas aconteceram e acontecem de verdade nos dias de hoje. O absurdo ainda maior é que os Rigueira continuam livres e soltos. É indignante, mas não é uma surpresa, eles são brancos, ricos e intelectualizados. E, no nosso país, isso garante permissão pra quase tudo, até mesmo para a escravidão, um ato considerado crime contra a humanidade.

É importante que toda suspeita seja investigada e que os casos sejam denunciados!

Para reverter esse cenário nós precisamos nos colocar em luta, superar o racismo e assumir um discurso e uma prática antirracista!

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