Negros morrem mais por Covid-19 devido ao racismo

O que mais mata negros no Brasil e no mundo são as políticas do Estado, não somente a pandemia do novo coronavirus. É o racismo dentro da estrutura capitalista com a ajuda do Estado que, hoje, tem o poder e a capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer, seja pelas políticas de acesso a serviços de saúde de qualidade e a moradia, seja pela política de segurança pública que permite o assassinato e a violência contra negros e negras diariamente.

No início da semana, o G1 publicou uma matéria com dados do Ministério da Saúde que mostravam que, apesar de apenas 23,9% do número total de hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave serem negros, o número total de pessoas negras mortas pela Covid-19 totalizava 34,3%. Enquanto que com a população branca, esses números eram bastante diferentes, com mais internações (73%) e menos mortes (62,9%).

Essa não é uma especificidade brasileira. Em Nova Iorque, um estudo sobre a doença mostrou populações hispânicas e negras constituem uma proporção maior de mortos por Covid-19 em relação à proporção de hispânicos e negros na sociedade.

Determinação social do processo de saúde e doença

Esses dados não dizem respeito a predisposições genéticas dessas populações, mas, sim, da realidade econômica, das condições de vida, trabalho e moradia enfrentadas por esses que são historicamente marginalizados em nossa sociedade.

E, se você ainda duvida disso, relembre uma das primeiras mortes por Covid-19 no país. A patroa, que estava em casa usufruindo da quarentena por ter retornado de uma viagem internacional, não dispensou a empregada doméstica de 63 anos, que continuou trabalhando até passar mal e ser levada ao hospital quando não havia mais chances para ela. A trabalhadora era hipertensa e também tinha diabetes, uma informação que também está relacionada a sua condição socioeconômica.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) são negros, e estes também são a maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas no país – todos considerados agravantes para o desenvolvimento de quadros mais graves da Covid-19. Essas doenças acometem, principalmente, pessoas com alimentação mais pobre em nutrientes, com condições de moradia precárias, sem saneamento básico, entre outros fatores sociais. Não é por acaso, que parte considerável da nossa classe possui, no mínimo, uma dessas comorbidades.

A falta de acesso da população negra a serviços de saúde e a políticas públicas de qualquer natureza remonta aos tempos de escravidão. Desde então, a população negra em sua imensa maioria é relegada aos espaços periféricos e marginalizados da nossa sociedade, sem mínimas condições de vida e trabalho. Trabalhadoras e trabalhadores negros são submetidos aos trabalhos mais precários e pior remunerados, isso porque, entre outros fatores, a estrutura de vida dessas pessoas dificulta o acesso e a permanência no ensino básico e superior. Não à toa, 47,8% das mulheres negras têm trabalhos informais em nosso país.

O Coronavírus e a população negra

Se o isolamento social e a manutenção da renda dos informais e dos mais pobres não são uma política governamental séria, são os trabalhadores negros, maioria entre os trabalhadores informais, que terão que ir às ruas e se arriscar a contrair o Coronavírus para garantir a sobrevivência.

Nos Estados Unidos, a população trabalhadora depende de um sistema de saúde privado que é bastante caro, e isso faz com que negros e hispânicos não tenham acesso aos serviços de saúde. Em geral, não diferente daqui, os tipos de trabalho a que estas pessoas estão submetidas não garantem um seguro saúde, que funcionam de forma equivalente aos planos aqui no Brasil.

Ou seja, essas populações não são internadas com poucos sintomas e não são monitoradas pelo sistema saúde. Quando essas pessoas dão entrada no sistema, elas já estão em estado grave, precisando de UTI e com poucas chances de sobrevivência.

Uso de máscaras por negros

A prevenção também é uma questão para a população negra e, principalmente, para os homens negros. De acordo com uma matéria do UOL, alguns homens negros norte-americanos relataram preocupação em usar máscaras artesanais e que preferem não usá-las. O motivo? O racismo a que estão submetidos cotidianamente.

Segundo eles, a máscara é algo que os coloca dentro do ideário que as pessoas têm de alguém suspeito e pode, certamente, ser vista como um adereço de um criminoso, particularmente quando usado por homens negros.

População trabalhadora tem dificuldade para acessar auxílio emergencial

Há cerca de duas semanas, o governo federal disponibilizou um auxílio emergencial, no valor de R$ 600, para minimizar os impactos da pandemia para trabalhadores informais, desempregados ou cadastrados em programas sociais. Entretanto, milhões de pessoas ainda não conseguiram sacar o dinheiro necessário para a manutenção da vida. O motivo são os vários entraves de acesso colocados pelo governo, em contrapartida, Bolsonaro e Guedes agiram com bastante agilidade no socorro aos bancos e empresas.

E, não se engane, o governo e os empresários encontrarão formas de repassar a conta dessa crise para os trabalhadores e precarizar ainda mais a vida da população negra. Na verdade, já está fazendo, com o corte dos salários e a suspensão dos contratos ao invés de taxar as grandes fortunas em mãos de brasileiros.

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