Aula pela TV desconsidera a realidade das famílias trabalhadoras durante a pandemia

As aulas estão suspensas em Araucária desde o dia 23 de março como medida para evitar aglomerações e contribuir com os esforços para redução do contágio pelo novo Coronavírus.

A doença já matou 1.557 mil pessoas no Brasil e mais de 120 mil em todo mundo. Entretanto, tem muita gente vendo esse período de calamidade pública como uma oportunidade de lucro fácil. Escolas particulares e empresas de tecnologia estão fazendo pressão para que as atividades à distância, disponibilizadas pela televisão ou pela internet, sejam reconhecidas pelo Ministério da Educação como forma de reposição até mesmo para o ensino fundamental e para a educação infantil.

As atividades desenvolvidas com o auxílio da internet ou da televisão são ferramentas pedagógicas importantes, mas não substituem as aulas presenciais. Em primeiro lugar, muitas crianças não conseguem sequer acessar as aulas porque não têm televisão ou internet em casa. Há também o caso das famílias que precisem dividir um televisor entre filhos que estão em séries diferentes.

Muitos trabalhadores não foram liberados do trabalho e não conseguem acompanhar a educação dos filhos. Não dá para exigir que crianças e jovens aprendam por conta própria, sem a mediação presencial do professor. A interação entre professor e aluno é essencial para o aprendizado, o que é ainda mais evidente no caso dos alunos com deficiências ou transtornos globais do desenvolvimento.

Além da falta de acesso à tecnologia e dos limites pedagógicos dessas ferramentas, a adoção de aulas à distância nesse momento não leva em consideração as dificuldades que as famílias mais pobres enfrentam para sobreviver em meio à pandemia. Muitos estudantes da rede pública dependem da escola para receber materiais, como cadernos e lápis de cor, e para fazer as suas refeições. Essas crianças enfrentam nesse momento um agravamento da miséria e da fome, já que as políticas públicas de auxílio chegam com atraso e em valores muito baixos. Sem a proteção e a convivência no espaço escolar, essas crianças estão mais vulneráveis também aos abusos e à violência doméstica.

É por isso que, nesse momento, devemos reforçar a luta pela ampliação das políticas públicas que garantam sustento a quem está desempregado ou na informalidade.

O Conselho Municipal de Educação de Araucária está em constante debate sobre como deve ocorrer a reposição. O SIFAR defende que as aulas permaneçam suspensas enquanto o isolamento social for a medida mais efetiva no combate à pandemia. O debate sobre a reposição deve acontecer com a participação de representantes dos trabalhadores, das mães e de pais de alunos no final da quarentena, quando saberemos por quanto tempo as aulas permaneceram suspensas e quanto conteúdo deve ser efetivamente reposto.

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